domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nota de Repúdio ao trote machista na UNB


No dia 11 de Janeiro, foi realizada a “recepção” aos novos estudantes do curso de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB). No entanto, as cenas registradas foram de violência nítida contra as mulheres. Na ocasião, 250 estudantes participavam do trote, intitulado de "festa da humilhação". As estudantes calouras foram obrigadas a chupar uma linguiça em público, oferecida pelo presidente do D.A, que estava vestido com trajes de mulher e carregando uma faixa presidencial. Esse ritual sexista tratou as mulheres como objetos, depreciando sua integridade e desmerencendo-as enquanto sujeitos. A alusão feita pelo autor do trote à presidenta da república reforça o sentido machista da prática, ridicularizando uma mulher que alcançou um dos mais altos espaços de poder.

Os trotes e as calouradas deveriam ser momentos de integração entre ingressantes e estudantes em curso, mas deixam de cumprir esse papel e transformam-se em momentos de humilhação, violência, opressão. O papel da denúncia é o de explicitar que esses trotes e calouradas reproduzem, desde as imagens que mercantilizam as mulheres, como por exemplo, os cartazes de propaganda de cervejas e automóveis nos quais as mulheres aparecem semi-nuas e como se fossem os produtos à venda, até a violência, inclusive sexual, mediante algumas ações as quais as mulheres são expostas.


Dessa forma, a União Nacional dos Estudantes vem a público repudiar esses atos de machismo e violência contra as mulheres e exigir a investigação e punição dos responsáveis pela organização da "festa da humilhação", no trote de Agronomia da UnB.


União Nacional dos Estudantes.



Moções aprovadas no 13º CONEB

Moções aprovadas no 13º Conselho Nacional de Entidades de Base da União Nacional dos Estudantes

Moção de repúdio ao machismo na universidade e no movimento estudantil

No último ano o machismo mostrou diversas vezes que continua presente na universidade brasileira. Podemos citar dois exemplos bem repercutidos pela mídia como da estudante de turismo Geisy Arruda, duramente hostilizada pelos colegas de universidade ao usar um vestido considerado muito curto e o “Rodeio das Gordas” UNESP, um chocante ato de machismo que consistia basicamente em os meninos montarem nas meninas que consideravam gordas, da mesma maneira que é feita nas arenas de rodeio.

Casos como esses só ocorrem graças à ditadura da beleza imposta pela sociedade capitalista e machista e reforçada pelos meios de comunicação diariamente. O tempo todo as mulheres são julgadas de acordo com sua aparência estética. Para serem valorizadas como profissionais as mulheres devem, primeiro, corresponder a um ideal estético que se refere a um modelo de feminilidade que nos coloca em uma situação de subordinação. Além disso, representa mais uma face cruel da violência que as mulheres sofrem cotidianamente na sociedade.

Nós mulheres estamos na universidade porque muitas que vieram antes de nós reivindicaram o nosso direito à educação. As mulheres representam hoje 55% de estudantes universitárias. Ainda assim, sabemos que a imposição machista está enraizada em todas as relações na academia. Existem desafios a serem superados, no sentido de romper preconceitos e discriminações sociais que subestimam as mulheres e as concentram em áreas do saber relacionadas ao que é tradicionalmente considerado feminino, como alguns cursos de humanas e saúde (pedagogia, enfermagem, letras, nutrição e etc).

Os recentes casos de machismo na comunidade acadêmica nos remetem a outro desafio colocado para a presença das estudantes na universidade, como reconhecimento de que temos direito de ocupar os espaços de direção, assim como estarmos em pé de igualdade com os homens no que se refere à produção de conhecimento.

O machismo na universidade apenas reflete a realidade que vivenciamos na sociedade. A universidade ‘e reflexo do meio social que a constrói. Ao mesmo tempo esta que deveria ter o papel de transformar as relações de desigualdade estabelecidas no meio social, está na verdade reproduzindo a opressão. Infelizmente, os trotes machistas não são um fato isolado, podemos citar tambem a rifa de uma prostituta em um Encontro de Estudantes de História, por exemplo, e os vários cartazes de festas e calouradas que mercantilizam o corpo das mulheres.

Nós mulheres, organizadas na União Nacional dos Estudantes, somos protagonistas de nossa historia e, para transformar a realidade, é essencial fortalecer a luta cotidiana pelo fim do machismo. Repudiamos toda e qualquer manifestação de opressão, nos solidarizamos com todas as estudantes que sofreram essa violência na UNESP e exigimos punição a todos os envolvidos nesse e em qualquer caso de agressão física e/ou psicológica contra a mulher.


Moção de Repudio á Cervejaria Devassa

O Conselho Nacional de Entidades de Base da União Nacional dos Estudantes se manifesta em repúdio a mercantilização do corpo da mulher propagandeada na mídia pela cervejaria Devassa. Nesta, a mulher é equiparada a um produto a ser consumido, assim como a cerveja, desqualificando-a enquanto sujeito pleno de suas ações e vontades. Esta é apenas um exemplo de tantas outras propagandas de nossa sociedade opressora.

A utilização recorrente da mulher como produto de mercado, principalmente pelas cervejarias, mostra como a publicidade as expõe. É visível que há uma banalização da sexualidade feminina, exposta incansavelmente pela mídia e abordada de forma pouco respeitosa em diversos âmbitos da sociedade.

Na Universidade vemos esta lógica serem reproduzidas nas salas de aula, choopadas, trotes e no próprio movimento estudantil, este que deve ser de acúmulo para a modificação dessa realidade. Na perspectiva de interferir no cotidiano dos estudantes e também na sociedade a UNE se posiciona contraria a esta propaganda veiculada pela Devassa, assim como a qualquer outra propaganda que desqualifique e utilize a mulher para obtenção de lucro.

Ser contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres significa combater a lógica que transforma os sujeitos em objetos a serem comprados, vendidos, ou mesmo tomados à força.

O machismo não desce redondo!

Somos mulheres e não mercadoria!!!

Moção de repúdio a criminalização do aborto

Nesse 13º CONEB, nós mulheres estudantes da UNE reafirmamos a defesa de uma importante luta para as mulheres, a luta pela legalização do aborto. Já no ano de 2007 a UNE levou para as universidades esse importante debate com a Campanha da Legalização do Aborto e com a Caravana da Saúde da entidade. Nesse momento a UNE não mediu esforços e nem se calou diante dos ataques diários, pois continuamos a afirmar que as mulheres têm o direito de decidir sobre suas vidas e seus corpos.

Infelizmente nas últimas eleições presidenciais, vimos como o tema da Legalização foi tratado de forma irresponsável, com objetivos eleitoreiros, e que colocaram o debate da legalização a partir do olhar da religião, criminalizando as mulheres e fortalecendo a hipocrisia social dando uma ênfase ao senso comum e não trazendo o verdadeiro e real debate sobre o aborto no Brasil. O debate da Legalização do Aborto não deve ser utilizado para vitórias eleitorais, e muito menos não ser discutido de forma superficial na sociedade, como por exemplo, vimos os meios de comunicação praticar.

Os números são alarmantes. Para além do debate religioso e ideológico, a prática do aborto clandestino é a quinta maior causa de internação hospitalar de mulheres no SUS, responde por 9% das mortes maternas e 25% das causas de esterilidade por problemas tubários. Cerca de 60% dos leitos de ginecologia no Brasil são ocupados por mulheres com sequelas de aborto. Além desses, é sabido que o abortamento inseguro cria um ambiente de culpabilidade nas mulheres gerando depressão, distúrbios de ansiedade, em síntese, mais problemas de saúde. A falta de uma política que compreenda a autonomia da mulher sobre seu corpo e que garanta um atendimento de saúde público, gratuito e de qualidade colocam o aborto como a terceira causa de morte das mulheres no país.

Vários são os motivos que levam as mulheres a abortar, todos custam muita reflexão, muita ansiedade, na maioria dos casos, muita dor. Nenhuma mulher aborta porque “gosta” de abortar. É uma decisão extrema. Reafirmamos o direto das mulheres sobre seu corpo e de decisão sobre os rumos de sua vida. É importante refletirmos que a decisão da maternidade certamente é uma das maiores decisões da vida de uma mulher, que mudará em muitos aspectos suas vidas. Além disso, a hipocrisia que vemos atualmente na sociedade, de não encarar o debate da legalização do aborto e pensar em políticas públicas que representem avanços, apenas aumentam os casos de morte de mulheres.

A caracterização como delito, não evita a realização do aborto, ao contrário, penaliza mais as mulheres pobres e negras que não têm condições de realizá-lo em clínicas particulares e seguras. Incentiva, portanto, sua prática clandestina e insegura que põe a vida de milhares de mulheres em risco.

A luta pela legalização do aborto envolve vários aspectos: laicização do Estado, saúde pública, questões econômicas, sociais, psicológicas, autonomia das mulheres. Materializa-se em polêmica por apresentar a concepção das mulheres como pessoas autônomas e com direito de controlar seu corpo e sua sexualidade.

A defesa da legalização do aborto não é o incentivo a sua prática; faz parte da luta em defesa da autonomia das mulheres de seu corpo, de sua sexualidade, de direito de escolha.

Precisamos acabar com essa hipocrisia! Milhares de mulheres estão morrendo! Defender a vida é defender a legalização do aborto com assistência garantida no sistema único de saúde.

Educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar, aborto seguro para não morrer!

















Convocatória IV EME da UNE 2011

O 13º CONEB da UNE, realizado entre os dias 15 e 17 de janeiro, no Rio de Janeiro, convoca a todas as estudantes brasileiras a participarem do IV Encontro de Mulheres Estudantes da UNE, que vai ocorrer entre os dias 21 e 24 de abril, em Salvador, Bahia.

O EME surgiu em 2005, por iniciativa da diretoria de mulheres da UNE, com o objetivo de ser um espaço de auto-organização e fortalecimento do debate feminista na entidade, contribuindo no combate ao machismo e todas as formas de opressão sofridas pelas mulheres dentro das universidades e no movimento estudantil. A segunda edição, que ocorreu em 2007 consolidou o Encontro e permitiu a criação de uma agenda própria.

Em 2009 o EME contou com a participação de 400 estudantes de todo o Brasil. Com a campanha “Mulheres transformando a universidade” o Encontro proporcionou debater a universidade a partir do olhar das mulheres. Creche, assistência estudantil, currículos acadêmicos que abrangem a discussão de gênero, educação não sexistas são pautas que derivaram do IV EME e que mobilizaram a estudantes nos últimos dois anos. Além disso, a mercantilização do corpo das mulheres, os trotes e calouradas machistas foram denunciados com veemência pelas mulheres estudantes. Por fim, este EME estimulou a criação de coletivos feministas nas universidades, com o papel de travar o debate feminista nos espaços acadêmicos, reivindicar políticas de assistências e organizar o combate às práticas machistas impostas às mulheres no cotidiano da vida estudantil.

O IV EME da UNE vai buscar aprofundar as bandeiras de luta do último Encontro e discutir a vida das mulheres a partir de uma perspectiva ampla, que resgate o combate às opressões vividas pelas mulheres na sociedade. Com o mote “Ô abre alas que as mulheres vão passar” o próximo EME terá o objetivo de criar uma agenda ampla que avance na discussão das mulheres nos espaços de decisão da Entidade e apresentar os desafios da mulher brasileira que, mesmo admitindo avanços no campo das políticas públicas, no acesso a educação, ainda sofrem com as duplas jornadas de trabalho, com a falta de autonomia e a mercantilização de seus corpos, com a criminalização do aborto e com os valores patriarcais e mercadológicos arraigados no seu cotidiano.

Antenadas com o momento atual, em que as mulheres rompem barreiras e alcançam espaços nunca antes conquistados, as mulheres da UNE buscam radicalizar as suas pautas e dizer, em alto e bom som, que ainda temos que lutar muito! Enquanto as mulheres jovens ocuparem os piores postos de trabalho, enquanto a pobreza estiver majoritariamente entre as mulheres negras, enquanto o aborto for criminalizado, a violência continuar existindo, estaremos em processo de luta e resistência!

Sabemos que o sistema capitalista reproduz e reforça a opressão sobre as mulheres que se acentua ainda mais se ela for negra. Recebem os menores salários, são menos representadas na educação superior e as que mais morrem por abortos inseguros. O encontro também vai acumular para essa realidade.

A luta contra o machismo é coletiva. É preciso que todas as mulheres se sintam protagonistas dessa luta e a encarem como sua em seu cotidiano, levando-a não só para os debates na sala de aula como também para outros espaços de atuação que participam, como Centros Acadêmicos, DCEs, nas UEEs, nas diretorias da UNE e organizações políticas.

Portanto, convocamos todas as estudantes a realizarem as suas atividades preparatórias em seus estados com o objetivo de fortalecer a discussão para o IV EME da UNE.

Construam suas delegações e vamos à luta por uma sociedade mais justa e igualitária!